Brincadeiras à parte, no título deste artigo busco, com um jogo da palavra robô, trazer uma reflexão sobre este tema, a respeito do qual muito se fala atualmente, e vem refletido na seguinte questão: A evolução tecnológica na área jurídica vai levar à substituição dos profissionais do direito por “robôs”?

Antes de falar sobre o futuro, que parece ser a grande preocupação dos profissionais, gostaria de tratar do presente, por uma questão de lógica, cronologia e prioridade. Vivemos em uma realidade em que as ferramentas tecnológicas (ou robô) já vêm reduzindo a necessidade de mão de obra na área jurídica, pois os softwares assumem algumas atividades e reduzem o tempo despendido com a execução de outras.

Exemplificando cada uma das situações:

(i) Substituição da mão de obra: preenchimento de campos em sistemas, geração de relatórios e pesquisas em sites; e
(ii) Redução do tempo de execução: padronização e geração de documentos, prazos automáticos e workflows.

É importante que esteja bem claro para todos os profissionais da área jurídica o fato (e não a hipótese) de que as atividades administrativas ou de suporte serão substituídas rapidamente e em grande escala pela tecnologia, enquanto aquelas relacionadas à produção intelectual, relacionamento e representação dos interesses do cliente, sofrerão impactos menos expressivos e mais lentos, ao menos em curto/médio prazo.

E por qual motivo isso ocorre? Primeiro, pelas necessidades humanas. O ser humano necessita de interação pessoal, principalmente para tratar das questões de maior impacto na sua vida. Segundo, pelas restrições legais. As leis preveem a participação de advogados como requisito para validade de alguns atos, bem como reservar à profissão o direito de praticar algumas atividades. Terceiro, pelos desafios técnicos. A automação de tarefas mais complexas, com muitas variáveis, dificulta a previsibilidade e a parametrização, e, consequentemente, a construção de ferramentas que possam concluir as atividades sem qualquer intervenção humana.

Tal percepção é refletida pelo site Will robots take my job? que traz uma interessante fonte de pesquisa sobre as probabilidades de automação das profissões, com base em estudos de pesquisadores estrangeiros. Consultando a profissão Lawyers (Advogados) o índice de risco de automação por robô é de 3,5%, considerado pelo site como Totally Safe (Totalmente Seguro), enquanto a consulta do termo Paralegals and Legal Assistants (Paralegais e Assistentes Jurídicos) retorna o índice de risco de automação por robô de 94%, descrito pelo site, de forma muito sútil e simpática, como You are doomed (Você está condenado). Os resultados das pesquisas fornecem outros dados interessantes sobre cada uma das profissões.

De qualquer maneira, esta é a percepção que possuímos com base no cenário tecnológico atual, pelas ferramentas já comerciais e pelas que se encontram em desenvolvimento. Assim, quanto ao futuro, pairam incertezas principalmente relacionadas ao nível de evolução que será atingido e da sua velocidade.

Independentemente disso, buscando responder à pergunta por trás do infame trocadilho contido no título deste artigo, posso afirmar que a tecnologia não roubou, nem roubará, empregos no meio jurídico. O que já vem ocorrendo, e passará a acontecer cada vez mais, é a perda de espaço no mercado (seja para empregados ou empreendedores na área jurídica) pelos profissionais que não acompanham as evoluções do segmento em todos os aspectos (não só tecnológicos), não ajustam seu mindset e não buscam desenvolver novas habilidades. Por um outro lado, aqueles que adotarem uma postura oposta, transformarão a suposta ameaça em oportunidade real.

Concluo, então, com uma mensagem para os profissionais do direito, um pouco longa e de interpretação complexa, mas a relevância do tema exige que seja assim: Preparem-se!

Autor: Ricardo Oliveira

2019-07-14T19:40:09-03:00